POÇO REDONDO: E AS POSSIBILIDADES DE GERAÇÃO DE TRABALHO E RENDA NA AGRICULTURA FAMILIAR

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Manoel Belarmino*

Eu nasci e me criei pisando nesse chão do Sertão do Francisco. Das margens do São Francisco ao complexo montanhoso da Serra Negra foi e continua sendo meu “caminho de roça”, literalmente. Conheço a comunidade Areias, neste Município de Poço Redondo, e conheço, também, a história da produção da agricultura familiar desse lugar.

Eu sou um “caboco” de sorte. Tive os privilégios que poucas pessoas tiveram ou têm. Trabalhei na enxada e na foice para sobreviver (no alugado) e guardei o sofrimento temperado com o suor do meu rosto como um aprendizado, como uma lição, como uma ciência; da caneta nas minhas mãos, livros e artigos(que dizem ser científicos) brotaram e brotam como favas nas roças em inverno bom neste sertão; e, nos tempos atuais, quando as condições e as portas das universidades se abriram, “entrei de cabeça” em duas graduações como um vaqueiro adentra na caatinga para pegar o barbatão mais brabo e valente dos sertões, como um vaqueiro que não desiste nunca do seu intento.

Recentemente, revisitei a comunidade Areias aqui em Poço Redondo, mas não foi um simples visita. Revisitei a história da produção agrícola familiar daquele pedação de chão arenoso no meio das caatingas poço-redondenses. Ali, na história do sertão, já se produziu em abundância: batata doce, algodão e mandioca. Areias já foi a localidade que mais produziu batata doce neste sertão. Havia, ali, também, pelo menos duas casas de farinha que funcionavam ininterruptamente os seis meses do ano, tempo da colheita da mandioca e do fabrico da farinha. Camarinhas na cidade de Poço Redondo e no Alto de João Paulo ficavam cheias, até encostar no telhado, de batata doce, que vinha das Areias. A casa de Farinha da fazenda Santo Antônio de Maria da Invenção e de Toinho Nicácio, nas Areias, era uma festa permanente, nas farinhadas tradicionais.

A degradação ambiental, provocada pelo desmatamento e pela imposição de um modelo agrícola inadequado para a agricultura familiar e a agrobiodiversidade (praticada pelos nossos antepassados), fez com que o eco-micro-clima das Areias e outras comunidades agrícolas perdessem a capacidade produtiva.

Recuperar a capacidade produtiva, nos tempos atuais, são desafios dos agricultores e dos governantes. Hoje, já dispomos de tecnologias que podem contribuir na recuperação dos solos, dos microclimas e da produção diversificada de alimentos. A Embrapa, a UFS e o IFS, e outras organizações como a ASA, têm essas tecnologias. O que falta é vontade política dos nossos governantes municipais.

Precisamos urgentemente de uma política agrícola que possa recuperar a cultura da diversidade da produção agrícola familiar. E também a recuperação dos solos e da vegetação da caatinga para tornar o micro-eco clima da região favorável às culturas que aqui citamos e outras. Que os candidatos e candidatas sintam que é possível o cidadão e a cidadão viver bem neste sertão, produzindo comida, energia e cultura em abundância.

Vou continuar sendo crítico, “doa em quem doer”; mas um crítico que propõe soluções, que aponta caminhos com saídas tecnicamente comprovadas, mesmo que os que governem não queiram ouvir. Para mim, não basta a vontade política, é imprescindível a capacidade técnica.

Já temos tecnologias apropriadas para um modelo de agricultura, rentável, de baixo custo, sustentável e agroecológico, basta vontade política e capacidade técnica dos governantes municipais.

*Manoel Belarmino dos Santos – DRT 2678/SE

 

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